O Proponente

Filhos, antes de tudo, antes de qualquer conselho, correção, desabafo ou memória que eu tenha contado aqui, eu quero que vocês saibam disso com todas as letras: eu amo vocês. Eu amo vocês mais do que amo a praga do time que amo o Corinthians.  Eu quero ter a oportunidade de mostrar que sei amar. Que posso faze-los se sentir seguros comigo.  Eu amo vocês com o tipo de amor que já sangrou calado, que já chorou escondido, que já carregou culpa demais e mesmo assim escolheu continuar. Amo vocês mesmo nos dias em que o mundo me quebrou por dentro, mesmo quando eu estava ausente — não por escolha, mas por guerra. Amo vocês mesmo nos dias em que me senti um erro ambulante, e mesmo assim tentei deixar algo certo pra vocês viverem melhor do que eu vivi. Eu não sou um pai perfeito. Mas o amor que tenho por vocês é inteiro. Mesmo fragmentado, eu amei com tudo o que me restava. Mesmo esgotado, eu continuei. > “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que...

 Filhos, vocês já devem ter percebido: a forma mais cruel de desprezo não é o grito — é o silêncio. É quando alguém sabe da sua dor… e mesmo assim vira as costas. É quando você fala com o coração aberto e recebe indiferença como resposta. > “Até quando escondereis de mim o vosso rosto?” — Salmos 13:1 Eu cresci ouvindo o eco de perguntas que ninguém respondia. Tentando ligar… mesmo já sabendo que ela não ia atender. Esse tipo de silêncio corrói. Ele não bate. Mas ele deixa você sangrando por dentro. E é por isso que eu digo com toda certeza: não repitam isso. Nunca façam alguém sentir que a dor dele é invisível. Não usem o silêncio como arma. Se estiverem feridos, falem. Se não puderem falar, ao menos fiquem perto. Mas não punam com distância quem só queria um pouco de cuidado. > “A palavra branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” — Provérbios 15:1 Se algum dia vocês forem pais, nunca deixem seus filhos implorarem por atenção. Se forem amigos, companheiros, lí...

 Filhos, se tem algo que esse mundo vai tentar fazer, é dividir vocês. Colocar inveja onde só deveria ter admiração, competição onde só deveria ter cumplicidade. E é por isso que eu sempre ensinei, desde cedo: vocês têm uns aos outros. A Lolo e a Sarinha têm o Pedro e a Laura. O Pedro e a Laura têm a Lolo e a Sarinha. E vocês precisam se amar. Se proteger. Se respeitar. E nunca deixar que o que vem de fora destrua o que foi dado por Deus. > “O cordão de três dobras não se rompe com facilidade.” — Eclesiastes 4:12 Irmãos não são só sangue. São trincheira. São porto. São testemunha da mesma origem. Vocês vão crescer. Vão ter opiniões diferentes. Vidas diferentes. Talvez até brigas — faz parte. Mas lembrem disso: Não importa quantos quilômetros, dias ou fases passem… vocês pertencem uns aos outros. E têm a missão de se proteger. > “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.” — Provérbios 17:17 Amigo de verdade crianças chega na voadora pra defender o amigo, voc...

Filhos, sim, eu quero que vocês chorem. Mas mais do que isso… quero que vocês aprendam com quem. Porque nem todo mundo merece ver suas lágrimas. Nem todo mundo vai saber cuidar da sua dor. Alguns vão usar isso contra vocês no primeiro conflito. > “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas.” — Mateus 7:6 Eu já chorei na frente de gente errada. Gente que parecia colo — mas era julgamento disfarçado. Gente que depois usou minha fraqueza como munição. Então ouçam com atenção: Não é frieza proteger o que há de mais íntimo. É sabedoria. É sobrevivência. Mostrem sua vulnerabilidade só pra quem tem lealdade, empatia e silêncio sagrado. Pra quem não precisa contar que esteve com vocês pra se sentir importante. Pra quem ora por vocês sem que ninguém veja. E saibam também ser esse tipo de pessoa. Sejam o lugar seguro de alguém. Nunca o motivo pra alguém se calar com medo. > “O verdadeiro amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.” — Provérbios...

 Filhos, vou dizer algo que ninguém me disse quando eu era criança: Chorar não é sinal de fraqueza. É sinal de que vocês ainda sentem. Ainda se importam. Ainda são humanos. Eu segurei muito choro na vida. Engoli injustiça com dente trincando. Senti vontade de chorar no meio de velório, mas fiquei em pé porque tinha gente olhando. Só que o corpo cobra. A alma grita. E o coração endurece se vocês não deixam ele lavar. > “Jesus chorou.” — João 11:35 Se até Ele chorou… quem somos nós pra fingir que dá pra suportar tudo com cara de pedra? Já chorei pela falta da minha mãe. Já chorei de raiva. De saudade. Chorei vendo o vazio onde antes vocês brincavam. Chorei quando olhei pro Chappie e percebi que ele era a única presença numa casa que já foi cheia de vida. Chorei de um jeito que não tem barulho — só soluço preso no peito. E, mesmo assim, sobrevivi. Não por causa da força, mas porque deixei o choro fazer o que só ele faz: limpar por dentro. > “Os que com lágrimas semeiam, com júbi...

  E filhos… há perdas que o mundo não enxerga. Mas que arrebentam a alma da gente como se fosse um terremoto interno. Eu entrei em luto. E não foi no cemitério. Foi dentro de casa. Naquela casa onde a gente morava — eu, a Sarinha, a Lolo, e a mamãe de vocês. A casa onde, quando eu chegava, tinha gritaria de alegria, tinha a Sarah subindo pela beliche pra deitar na cama da Lolo, tinha barulho de vida, de rotina, de bagunça boa. Mas um dia… não tinha mais nada disso. A beliche não estava mais lá. Vocês não estavam mais lá. Era só eu. E o Chappie. Nosso cachorro. E aquilo, filhos… aquilo doeu. Doeu mais do que qualquer pancada, qualquer rejeição, qualquer derrota. Porque não era só ausência. Era o silêncio falando em voz alta: “Você perdeu isso também.” E eu precisei respirar no meio do vazio. Segurar o choro no meio da madrugada. Aceitar que parte da minha história tinha virado lembrança — mesmo com vocês vivos. [...] Aprender a perder, filhos, é entender que o amor verdadeiro às vez...

Filhos, eu sei o quanto dói perder. Dói não ser escolhido, não ser lembrado, não ser escalado. Dói ver um sonho parado no banco, enquanto outros entram em campo. Mas ouçam bem o que o pai tá dizendo: A forma como vocês lidam com a derrota define o que vocês merecem na vitória. Teu pai aqui já foi titular em muitos lugares. Mas também já foi reserva ignorado. Terceiro goleiro sem chance. Nem cotado. Vendo o jogo acontecer de fora, com vontade no peito e o nome esquecido na prancheta. E mesmo assim, eu continuei. Fui parte de um time universitário que venceu. Ganhei um campeonato. E mesmo depois da minha saída, o projeto que ajudei a construir continuou vencendo. Porque eu deixei alicerces. E isso, filhos… isso vale mais que medalha. > “O que semeia com lágrimas, com júbilo ceifará.” — Salmos 126:5 Aprendam isso cedo: Nem toda vitória é visível. Tem glória que só o céu vê. E se algum dia vocês se sentirem pequenos porque não estão no destaque, lembrem da seleção brasileira de 2002: Ti...

Filhos, ouçam isso como quem recebe uma chave: quase tudo que vale a pena vem depois da parte que dá vontade de desistir. O que diferencia um homem comum de um homem marcado por propósito não é força. É permanência. É aguentar os dias em que tudo grita “para”, e mesmo assim continuar. Eu já andei por caminhos onde parecia que ninguém via o que eu carregava por dentro. Gente virou as costas, gente zombou, gente desapareceu. Mas eu continuei. E foi essa perseverança que fez até quem desacreditou de mim começar a me enxergar diferente. Não porque eu gritei. Mas porque eu não desisti. > “E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos.” — Gálatas 6:9 Se um dia vocês acordarem sem forças, lembrem disso: o propósito de Deus não é impedido pela condição que você vive hoje. Muita gente acha que propósito só aparece quando a vida tá resolvida. Mentira. O propósito de Deus se revela exatamente no meio do caos — quando você ainda tá no processo, mas já ...

 Filhos, não confundam presença com amor. Não confundam atração com cuidado. E, pelo amor de Deus, não confundam migalha com afeto. O mundo vai ensinar vocês a parecerem apaixonados, mas raramente vai ensinar a permanecerem fiéis. E tem um monte de gente que diz “eu te amo” mas não aguenta nem ouvir um “eu preciso conversar”. Então eu digo com toda a experiência de quem já viveu relacionamentos que prometeram tudo e deixaram só buraco: Amem com verdade. E aprendam a reconhecer quando não estão sendo amados de volta. Não é amor quando você precisa implorar pra ser ouvido. Não é amor quando sua dor é usada contra você. Não é amor quando o outro só aparece quando precisa, e desaparece quando você precisa. E, principalmente, não é amor quando você some de si mesmo pra caber na vida de alguém. > “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. Não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente ...

Filhos, ouçam com atenção — porque isso aqui vale mais do que qualquer diploma que vocês possam conquistar. As pessoas simples salvaram meu caminho. Gente que não aparece em palco, mas que carrega o mundo nas costas com dignidade. Quando eu tava quebrado por dentro e por fora, não foi gente de nome que me levantou. Foi gente de rua, de olhar verdadeiro, de roupas sujas e simples, mas com um coração mais limpo que muito terno engomado. E eu quero que vocês saibam disso: honrar essas pessoas é honrar de onde viemos — e quem somos. Teu pai aqui, filhos… um dia tirou a própria coberta favorita pra dar pra alguém que tava passando frio. Não era sobra. Era minha preferida. Mas eu sabia que o que pra mim era conforto, pra aquela pessoa podia ser a única chance de dormir com dignidade. Outra vez, vi um cara travado na catraca do metrô, sem um centavo. Paguei a passagem dele. Isso aconteceu varias vezes! Sem perguntar o nome, sem esperar “valeu”. Porque naquele momento, ele era eu. E se eu tinh...

  Filhos, Ajudar é uma bênção. Dividir é um ato de grandeza. Mas se vocês se entregarem demais pra quem só sabe sugar… vão acabar secos. Aprendam a ter coração aberto, mas também a ter discernimento espiritual e emocional. A vida vai colocar gente ao redor que parece precisar de ajuda, mas no fundo só quer usar o que vocês têm e ir embora como se nada tivesse acontecido. Sejam generosos — mas nunca se coloquem em último lugar por medo de dizer “não”. Na Bíblia, está escrito: > “O prudente vê o mal e se esconde; mas os simples passam adiante e sofrem a pena.” — Provérbios 22:3 Tem gente que vai confundir a bondade de vocês com burrice. Vai pensar: > “Se ele não se valoriza, eu também não preciso valorizar.” Então aqui vai meu conselho de rua, de alma e de Palavra: Ajudem. Mas não se anulem. Ame com verdade, mas saiba se afastar de quem te machuca enquanto sorri. Jesus lavou os pés dos discípulos, mas também virou a mesa dos mercadores. > “Não deis aos cães o que é santo, ne...

 Filhos, a arrogância é um veneno que se disfarça de força. Ela faz você se sentir grande por dentro enquanto os outros te enxergam pequeno por fora. E o pior: ela te afasta das pessoas certas, te cega nas horas erradas, e te deixa sozinho quando você mais precisa de ajuda. Se vocês forem bons em algo — e eu sei que serão — não gritem isso pro mundo. Deixem os resultados falarem. A competência verdadeira é silenciosa, mas reconhecida no olhar de quem observa de longe. E mais: não confundam convicção com superioridade. Ter opinião firme não dá licença pra desprezar quem pensa diferente. Ouçam quem tem menos. Aprendam com quem errou. E se um dia vocês forem os melhores em uma sala, não se acomodem nem se engrandeçam. Entrem numa sala onde vocês possam aprender de novo. A vida tem um jeito sutil (e às vezes brutal) de corrigir o soberbo: Ela tira tudo que ele usava pra se sentir importante. E quando isso acontece, é tarde pra ser humilde. Melhor escolher a humildade antes que ela seja...

 Filhos, eu preciso que vocês entendam isso com o coração aberto: começar do zero não é fracasso — é coragem crua. Eu já dormi no papelão. Literalmente. Enrolado num canto esquecido da cidade, sob a cobertura de um bar que já nem existia mais. Ali onde um dia joguei sinuca com meu pai, eu me vi jogando com a vida — e perdendo. Frio, fome, abandono… tudo junto, tudo em silêncio. E mesmo assim, eu sonhava. Sonhava com vocês. Sonhava em sair daquele chão e construir algo que deixasse vocês em pé, mesmo que eu tivesse que cair mil vezes. Então ouçam com atenção: Não se envergonhem se a vida quebrar vocês. Não se assustem se tiverem que recomeçar mais de uma vez. O mundo vai tentar medir vocês por estabilidade. Mas saibam: o valor real de um homem não é o que ele tem, é o quanto ele suporta perder sem perder a si mesmo. Se algum dia vocês sentirem que tudo ruiu, lembrem disso: O seu pai esteve lá embaixo. E não morreu. Nem como homem, nem como sonho. Voltar ao início não é derrota. É ch...

 Eu não sou o pai perfeito. Mas tudo o que eu faço, tudo o que eu tento construir, tudo que eu insisto em não desistir… É porque vocês existem. Carrego comigo dores que não escolhi viver, e cicatrizes que talvez vocês nunca vejam. Mas eu quero que saibam: eu lutei com cada parte de mim pra ser melhor pra vocês. Eu errei. Erro. E talvez ainda vá errar algumas vezes. Mas mesmo nos meus piores dias, eu nunca deixei de amar vocês de pensar em vocês. EU ERA UM PAI FELIZ ESTANDO PRESENTE. SENDO CANTANDO A MÚSICA DO PIRATA LEVANDO VOCÊS ( Sarah e Lolo) PRA ESCOLA, SEJA ATRAVESSANDO SÃO PAULO PARA BUSCAR LAURA, SEJA ARRANCANDO O TAMPÃO DO DEDO JOGANDO BOLA COM O PEDRO.  Quando o mundo me pesava, o pensamento de vocês era o que me impedia de afundar. Um dia, vocês vão entender que a vida é feita de rachaduras, e que nem sempre os adultos têm todas as respostas. Mas se eu puder deixar algo além do meu sobrenome, eu quero deixar em vocês a certeza de que nunca, nunca estiveram sozinhos. ...

Voltei como quem procura um eco. Como quem revisita uma dor com esperança de que ela tenha mudado de lugar. Mas não mudou. Passei em frente da casa que ficávamos. A fachada ainda sabia meu nome, mas me olhava como estranha. Fui atrás de um tempo que não estava mais lá. Um tempo que talvez nunca tivesse existido — pelo menos não pra mim. Eu dormi na rua. Ali. Na cobertura de onde era um bar. Um bar onde joguei sinuca com meu pai e o Rudnei. Três personagens numa cena que já parecia filme mesmo quando era real. Mas agora, não era mais um bar. Era só um lugar fechado. Sem vida. Sem mesa.  Com cobertura. E eu ali. Dormindo enrolado no papelão. Fora de temporada os donos de quiosque sofrem, todo mundo só quer a alta temporada. A pele grudada no chão frio. O papelão arranhando minha dignidade. O silêncio — cruel — que gritava mais do que qualquer buzina. Passava um filme. Na mente. No peito. No escuro. Parece que via a família passando. Todo mundo esperando todo mundo sair para ir e volt...

Hoje, saí da igreja com um nó no peito que eu não consegui ignorar. Não era peso de culpa. Era uma lembrança que não me pediu licença. Lembrei das vezes em que eu chegava com minhas filhas e a minha mãe… Simplesmente deixava a gente dormir no chão. Nenhum travesseiro extra. Nenhuma preocupação. Nenhum gesto de avó. Enquanto isso, vejo os pais e avós dos filhos dos meus amigos cuidando com carinho, como se estivessem protegendo algo sagrado. E eu percebo: minhas filhas nunca tiveram isso. ( E fui avisado que por ela mesma, que não cuidaria de filho de ninguém! O ninguém era eu. ( Tive esse cuidado só enquanto meu pai era vivo)   Isso me quebra por dentro. Me faz sentir raiva, ódio, vontade de explodir tudo. (QUEM NUNCA!?) IRAI-VOS MAS NÃO PEQUEIS.  Mas o que precisa ficar claro é que cada ligação sua não atendida não diz quem eu sou — Diz apenas mãe,  quem você  escolheu ser. Não é só raiva da minha mãe. É luto pela avó que minhas filhas não têm. É a dor de ver ...