Eu voltei para Mongaguá
Voltei como quem procura um eco.
Como quem revisita uma dor com esperança de que ela tenha mudado de lugar.
Mas não mudou.
Passei em frente da casa que ficávamos.
A fachada ainda sabia meu nome, mas me olhava como estranha.
Fui atrás de um tempo que não estava mais lá.
Um tempo que talvez nunca tivesse existido — pelo menos não pra mim.
Eu dormi na rua.
Ali.
Na cobertura de onde era um bar.
Um bar onde joguei sinuca com meu pai e o Rudnei.
Três personagens numa cena que já parecia filme mesmo quando era real.
Mas agora, não era mais um bar.
Era só um lugar fechado.
Sem vida. Sem mesa.
Com cobertura.
E eu ali.
Dormindo enrolado no papelão.
Fora de temporada os donos de quiosque sofrem, todo mundo só quer a alta temporada.
A pele grudada no chão frio.
O papelão arranhando minha dignidade.
O silêncio — cruel — que gritava mais do que qualquer buzina.
Passava um filme.
Na mente. No peito.
No escuro.
Parece que via a família passando.
Todo mundo esperando todo mundo sair para ir e voltar juntos da praia.
A praia que nunca foi só mar.
Era fuga, era festa dos outros, era ausência.
E eu — no meio — tentando me encaixar numa moldura que não me incluía.
Passando fome.
Não só de comida.
Fome de olhar.
De cuidado.
De algum gesto que dissesse: você importa.
Frio.
O frio do concreto.
O frio do abandono que rasga a alma.
O tipo de frio que nem cobertor resolve.
E o pior de tudo: o abandono.
A sensação de que todos foram.
E só eu fiquei.
Fiquei pra lembrar.
Fiquei pra carregar.
E ainda assim…
Você estou aqui
E isso — mesmo sem final feliz — é sobrevivência com nome e alma.
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