Quando o Amor Vira Ausência e a Raiva Pede Espaço


Hoje, saí da igreja com um nó no peito que eu não consegui ignorar.

Não era peso de culpa. Era uma lembrança que não me pediu licença.


Lembrei das vezes em que eu chegava com minhas filhas e a minha mãe…

Simplesmente deixava a gente dormir no chão.

Nenhum travesseiro extra. Nenhuma preocupação. Nenhum gesto de avó.


Enquanto isso, vejo os pais e avós dos filhos dos meus amigos cuidando com carinho, como se estivessem protegendo algo sagrado.


E eu percebo: minhas filhas nunca tiveram isso. ( E fui avisado que por ela mesma, que não cuidaria de filho de ninguém! O ninguém era eu. ( Tive esse cuidado só enquanto meu pai era vivo)  


Isso me quebra por dentro.

Me faz sentir raiva, ódio, vontade de explodir tudo.

(QUEM NUNCA!?) IRAI-VOS MAS NÃO PEQUEIS. 


Mas o que precisa ficar claro é que cada ligação sua não atendida não diz quem eu sou —

Diz apenas mãe, 

quem você  escolheu ser.


Não é só raiva da minha mãe.

É luto pela avó que minhas filhas não têm.

É a dor de ver o descaso atravessar gerações.

É o tipo de dor que não tem a quem culpar diretamente, mas ainda assim te consome.


E a igreja, ironicamente, não me protegeu disso hoje.

Pelo contrário: me fez sentir ainda mais.

Me expôs à lembrança do que é amor verdadeiro — e do quanto isso me faltou.


Na igreja, eu fui exposto a um amor que não cobra nada em troca.

Um amor que não mede presença por merecimento.

Que não pesa passado, nem pontua desempenho.

Ali, naquele ambiente onde cantam sobre graça e redenção,

eu fui lembrado de que existe um tipo de amor que simplesmente não falha.


E foi exatamente isso que me quebrou por dentro.


Porque ao sentir esse amor — incondicional, limpo, gratuito —

eu percebi o quanto ele fez falta nos lugares onde mais deveria ter estado.

Na infância.

No colo.

No olhar da minha mãe quando eu ainda tentava agradar pra receber algo de volta.


A igreja me mostrou o que era segurança afetiva.

E, no mesmo instante, me lembrou do abismo que ficou em mim por não tê-la.

Não foi uma palavra que me destruiu. Foi a comparação silenciosa entre o que eu vi ali…

Quem enfia a mão na cara de uma criança de 6 anos e arranca sangue da sua boca por tirar uma única nota vermelha? A mãe, a avó! 

Eu tenho medo de deixar meus filhos sozinhos com você! Com medo de fazer algo até pior. Medo de romper a pureza da Sarinha ou de diminuir a alegria de Lolo. 

Mas sabe o qual é a novidade? 

Eu agi diferente. 


Eu estou demolindo com muita dor qualquer expectativa de receber algo de você.

Demolir a expectativa não é matar o amor.

É desocupar o terreno emocional pra construir algo meu, mais real, mais vivo — algo que começa em Deus, passa por mim e  nos meus filhos e vai romper gerações. Sem precisar passar por você. 

Deus tem uma obra na minha vida e o pedreiro sou eu. 


Eu não me escondi atrás de um projeto novo ou de uma desculpa racional.


Eu reconheci.


Eu deixei doer.


E vim escrever isso aqui, pra colocar as coisas no lugar.

Ou pelo menos fora da minha cabeça por um tempo.


Essa dor me mostra que ainda sou inteiro.

Essa raiva me mostra que ainda espero justiça.


E mais importante:

Essa lembrança me dá direção.

Porque eu posso não mudar o passado, mas posso construir o tipo de homem que não repete o mesmo padrão.


Minhas filhas talvez não tenham tido a avó que eu sonhei.

Mas elas vão ter o pai que escolheu romper o ciclo.


E isso...

É uma forma de milagre.



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